Nesta segunda parte, vamos falar das demais classes de medicações, os opioides, os anticonvulsivantes e os antidepressivos.

Alguns tipos de dores mais moderadas e intensas em gestantes não respondem bem a analgésicos comuns, além de existir o receio pelo uso de anti-inflamatórios. Os opioides ganham aqui espaço.

Segundo artigos mais recentes, a combinação de codeína com paracetamol é um dos mais usados, assim como a oxicodona, em dores fortes.

Opioides podem causar efeitos adversos, como retenção urinária, constipação, coceira, além de que em doses altas, depressão respiratória, sedação, sonolência.

A classe é comumente prescrita no pós-operatório de cesáreas, visto ser uma cirurgia dolorosa. Há a liberação da droga metabolizada no leite materno, podendo ser transferido para o feto.

Nas gestantes portadoras de dor crônica e que fazem uso dessa classe diariamente, o feto tem grandes chances de fazer síndrome de abstinência ao nascer, necessitando informar que faz uso da medicação ao neonatologista.

A dúvida é se vale a pena utilizar. Bem, toda medicação tem de ser bem indicada e prescrita por um médico. Temos que lembrar que a paciente com dor pode precipitar o trabalho de parto prematuro e não queremos isso nunca! Tudo na vida é custo versus benefício, então, racionalidade é essencial.

E sobre os anticonvulsivantes? Esta classe de medicação – que pode assustar pelo nome – pode ser usadas por algumas gestantes sim.

Geralmente, pacientes faziam uso prévio à gestação, devido a algum quadro neurológico, com necessidade de manutenção na gravidez.

Para iniciar o tratamento de dor, dificilmente a utilizaremos. São medicações que podem apresentar o risco teórico de influenciar na formação fetal, sendo deixadas em segundo plano, devido à relação custo x benefício.

A gabapentina e pregabalina são consideradas como risco C, sem evidências de alterações fetais, porém, sempre pesar a relação risco x benefício.

Ambas têm metabólitos eliminados no leite materno. Caso haja necessidade do uso, uma dose espaçada das mamadas ou ordenha do leite previamente pode ser programada.

Mas vale a pena usar? Bem, estejamos conscientes de que dor pode desencadear o trabalho de parto prematuro em gestantes e a presença de dor não controlada no pós-operatório aumenta infecção, tempo de internação, desenvolvimento de blues e depressão pós-parto, entre outras.

E os anti-depressivos? Bem, temos duas categorias bastante comuns nessa classe de drogas, os inibidores seletivos de receptação de serotonina (ISRS) e os inibidores seletivos de receptação de serotonina e noradrenalina (ISRSN). Os primeiros têm seu uso mais liberados para pacientes gestantes, mas não são eficazmente efetivos para tratamento da dor. A fluoxetina é o exemplo mais estudado, existe relação de seu uso com prematuridade (14%) e menor peso ao nascer (cerca de 200g a menos do que o esperado). Sertralina e Paroxetina não demonstraram tais efeitos negativos, sendo considerados mais seguros.

A segunda classe, ISRSN, são as mais estudadas para o tratamento da dor. Amitriptilina tem seu uso restrito, mas se formos escolher alguma outra droga dessa classe, Nortriptilina seria o mais indicado, com pouca absorção pela circulação sanguínea fetal, logo, sem efeitos negativos significativos. Venlafaxina demonstrou aumentar a taxa de abortamento espontâneo.